Reabilitação pós-osteotomia no joelho: passo a passo do protocolo ideal

A osteotomia do joelho é um procedimento cirúrgico que busca realinhar o eixo da perna de forma a redistribuir o peso sobre a articulação, aliviando a sobrecarga nas áreas lesionadas. Esse procedimento é indicado principalmente para pacientes com artrose unicompartimental, geralmente no compartimento medial, que ainda não atingiram estágio avançado ou desejam adiar ou evitar a prótese total de joelho.

Embora o sucesso da cirurgia dependa da precisão técnica do ortopedista, o resultado funcional a longo prazo está diretamente ligado à qualidade da reabilitação. O protocolo pós-operatório deve ser planejado de forma cuidadosa, respeitando as fases de cicatrização óssea e adaptação biomecânica. Uma reabilitação bem conduzida garante a recuperação do movimento, da força e da estabilidade, permitindo que o paciente consiga retornar com segurança às suas atividades cotidianas e esportivas.

Entendendo a osteotomia e seus objetivos

A osteotomia consiste na realização de um corte controlado no osso, geralmente no fêmur distal ou na tíbia proximal, para corrigir desalinhamentos que provocam sobrecarga assimétrica na articulação. No caso do joelho varo, o peso corporal se concentra na parte interna da articulação, enquanto no joelho valgo o estresse ocorre na porção externa. A correção do eixo mecânico tem como meta redistribuir a carga adequadamente para reduzir a dor e retardar a progressão da artrose.

Existem dois tipos de osteotomia principais: a tibial alta e a femoral distal. A primeira é mais comum e indicada para deformidades em varo, enquanto a segunda é utilizada para os casos de joelho valgo. Ambas podem ser realizadas através de técnicas de cunha aberta ou fechada, fixadas com placas e parafusos para garantir a estabilidade durante a consolidação.

O sucesso cirúrgico, contudo, não se resume ao alinhamento radiográfico. A reabilitação pós-operatória desempenha papel fundamental na restauração do equilíbrio muscular e da função articular. A falta de um protocolo adequado pode resultar em rigidez, fraqueza e até mesmo falha do procedimento, comprometendo todo o investimento clínico e cirúrgico.

Por esse motivo, a reabilitação deve começar logo após a intervenção cirúrgica, com metas bem definidas e progressão gradual, sempre adaptada à técnica utilizada e às condições do paciente.

Primeira fase: controle da dor e preservação da mobilidade

A fase inicial da reabilitação, que abrange aproximadamente as quatro primeiras semanas após a cirurgia, tem como foco o controle da dor, a redução do edema e a preservação da amplitude de movimento. Nessa fase, o paciente ainda utiliza muletas e mantém carga parcial ou nula sobre o membro operado, conforme orientação médica e estabilidade da fixação óssea.

A fisioterapia deve iniciar o quanto antes, com exercícios passivos e ativos assistidos para prevenção de rigidez e manutenção da lubrificação articular. A mobilização precoce ajuda a evitar aderências e favorece a nutrição da cartilagem, acelerando o retorno funcional.

Métodos de crioterapia, elevação do membro e compressão são fundamentais para o controle do edema e da dor. Técnicas como a eletroestimulação também podem ser utilizadas para preservar o tônus do quadríceps e minimizar a atrofia muscular. Nesse estágio, o foco não está no ganho de força, e sim na manutenção da integridade articular e prevenção de complicações.

Segunda fase: fortalecimento e controle de carga

Entre a quarta e a oitava semana, a reabilitação entra em uma nova etapa: o fortalecimento progressivo. Com a consolidação óssea em andamento, inicia-se a transição para o apoio parcial e, posteriormente, o apoio total. O objetivo é restabelecer o controle muscular e a estabilidade articular sem comprometer a cicatrização.

O fortalecimento deve priorizar o quadríceps e os músculos estabilizadores do quadril, que são fundamentais para o alinhamento do joelho durante a marcha. Exercícios de cadeia cinética fechada, como miniagachamentos, leg press leve e ponte, são introduzidos gradualmente.

O equilíbrio e a propriocepção começam a ser trabalhados nessa fase, com o uso de prancha de instabilidade e superfícies macias. Esse protocolo ajuda o paciente a recuperar a confiança no apoio e preparar o joelho para as atividades funcionais mais complexas.

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Terceira fase: ganho funcional e retorno às atividades

A partir do terceiro mês de recuperação, com a consolidação óssea mais avançada, o paciente já pode iniciar exercícios mais dinâmicos e específicos. O foco passa a ser o ganho de força, coordenação e resistência. Por esse motivo, a fisioterapia deve incluir movimentos funcionais que simulem as atividades do dia a dia, como subir escadas, agachar e caminhar longas distâncias.

Exercícios em piscina são altamente recomendados, pois reduzem o impacto articular e permitem a execução de movimentos amplos com menos dor. A bicicleta ergométrica também é introduzida gradualmente, melhorando a amplitude e a resistência cardiovascular.

Durante essa fase, o paciente começa a perceber os ganhos reais do tratamento: menor dor, melhor mobilidade e retorno progressivo à rotina. Entretanto, o acompanhamento fisioterapêutico deve continuar com ajustes individuais de acordo com o ritmo da recuperação e o tipo de osteotomia realizada. Em geral, o retorno pleno ocorre entre seis e nove meses após a cirurgia.

Quarta fase: recondicionamento e prevenção de recidivas

Mesmo após o retorno às atividades, a reabilitação não deve ser interrompida abruptamente. A fase de recondicionamento funcional tem como foco consolidar os ganhos obtidos e evitar recidivas de dor ou desequilíbrio muscular.

Nesse caso, o trabalho de força deve ser mantido com ênfase nos músculos estabilizadores do joelho e do quadril. Exercícios de alongamento e liberação miofascial são muito recomendados para preservar a flexibilidade e prevenir a sobrecarga compensatória.

O treino proprioceptivo permanece como parte do programa de reabilitação, garantindo maior controle neuromuscular e proteção contra lesões. Pacientes que praticam esportes de impacto, como corrida ou futebol, devem passar por testes funcionais antes da liberação completa.

Cuidados, expectativas e evidências

Cada paciente responde de forma diferente à reabilitação, e o tempo de recuperação pode variar de acordo com a idade, o tipo de osteotomia e o comprometimento prévio da articulação. Por esse motivo, as expectativas devem ser realistas e alinhadas desde o início do tratamento.

Estudos recentes demonstram que uma reabilitação estruturada pode melhorar significativamente a função articular e reduzir o risco de reoperações. De acordo com uma pesquisa publicada no Knee Surgery, Sports Traumatology, Arthroscopy, protocolos de fisioterapia intensiva após osteotomia tibial alta resultam em melhor recuperação funcional e retorno mais rápido às atividades.

Se você realizou uma osteotomia ou está se preparando para a cirurgia, agende uma consulta e receba um plano de reabilitação personalizado.