Lesão ligamentar (LCA/LCP) no joelho: tratamento moderno e evolução
As lesões ligamentares do joelho estão entre as mais temidas, principalmente por atletas e pessoas fisicamente ativas. O ligamento cruzado anterior (LCA) e o ligamento cruzado posterior (LCP) são estruturas indispensáveis para a estabilidade do joelho, controlando os movimentos de translação e rotação da tíbia em relação ao fêmur. Quando um deles sofre um rompimento, o equilíbrio articular é comprometido, gerando instabilidade, dor e, a longo prazo, degeneração precoce da cartilagem. Nos últimos anos, o tratamento dessas lesões evoluiu de forma significativa. O avanço nas técnicas cirúrgicas, na fisioterapia e em terapias biológicas tornou possível uma recuperação mais rápida e funcional, com um retorno mais seguro às atividades esportivas. Anatomia e função dos ligamentos cruzados O joelho é uma articulação complexa e os ligamentos cruzados atuam como verdadeiros estabilizadores centrais. O LCA impede o deslocamento anterior da tíbia em relação ao fêmur e controla a rotação do joelho, sendo essencial para movimentos de salto e mudança de direção. Já o LCP evita o deslocamento posterior da tíbia e é ativado em atividades como descidas, frenagens e agachamentos profundos. Ambos os ligamentos trabalham em conjunto com os ligamentos colaterais e a musculatura ao redor do joelho para a manutenção do equilíbrio articular. A ruptura de um deles — principalmente o LCA, mais comum em esportes de impacto — faz o paciente sentir um estalo súbito, dor intensa e, frequentemente, inchaço imediato devido ao sangramento intra-articular. A instabilidade resultante prejudica o controle dos movimentos, aumenta o risco de novas lesões e agrava o quadro de dor. Por esse motivo, o diagnóstico precoce é fundamental para garantir o início do tratamento e uma melhor recuperação. Quando operar e quando tratar de forma conservadora A decisão entre o tratamento cirúrgico e o conservador depende de uma série de fatores, incluindo nível de atividade, idade, tipo de lesão e sintomas de instabilidade. Nem todo paciente com lesão do LCA ou LCP precisa operar; em alguns casos, a reabilitação bem conduzida é suficiente para restaurar a função e permitir uma vida sem dor. O tratamento conservador é indicado principalmente para pacientes com baixo nível de exigência esportiva, lesões parciais e boa estabilidade muscular. Ele inclui fisioterapia intensiva focada em fortalecimento, propriocepção e reeducação da marcha. O objetivo é compensar a falta do ligamento com maior controle neuromuscular, estabilizando o joelho de forma gradual. Já o tratamento cirúrgico é recomendado para pacientes jovens, atletas ou pessoas que apresentam instabilidade significativa que limita as atividades do dia a dia. Nesses casos, a reconstrução ligamentar é a forma mais eficaz de restaurar a estabilidade e prevenir a degeneração articular precoce. A indicação para reconstrução do LCP é mais seletiva, pois o joelho pode manter relativa estabilidade mesmo sem ele. Entretanto, nos casos de instabilidade posterior importante ou lesões múltiplas (como do canto póstero-lateral), a cirurgia se torna indispensável. Leia também: Tipos e lesões ligamentares: LCA, lcp, lcm e lcl Técnicas cirúrgicas modernas e enxertos utilizados A cirurgia para reconstrução ligamentar evoluiu de forma muito expressiva nas últimas décadas. Atualmente, o padrão-ouro é a artroscopia, técnica minimamente invasiva que permite a visualização e o reparo de estruturas internas por meio de pequenas incisões, reduzindo a dor, o risco de infecção e o tempo de recuperação. Durante o procedimento, o ligamento rompido é substituído por um enxerto, que pode ser autólogo ou alógeno. Os enxertos mais utilizados são os tendões dos isquiotibiais, o tendão patelar e, mais recentemente, o tendão do quadríceps, que oferece excelente resistência e menor morbidade no local doador. Uma das principais evoluções foi o aperfeiçoamento da fixação anatômica, que busca reconstruir o ligamento na posição exata de sua inserção original, reproduzindo ao máximo a biomecânica natural. Além de garantir estabilidade superior, esse processo também proporciona um retorno mais seguro às atividades esportivas. Principais avanços no tratamento cirúrgico: Reabilitação e retorno às atividades A reabilitação após a lesão ou cirurgia do ligamento é um dos pilares do sucesso do tratamento. Mais do que recuperar a amplitude do movimento, o objetivo é restaurar a força, o controle neuromuscular e a confiança no joelho. Nas primeiras semanas após o procedimento, o foco é controlar a dor e o inchaço, evitando rigidez articular. Exercícios de mobilidade passiva e fortalecimento leve do quadríceps são iniciados precocemente, com o auxílio da fisioterapia. O apoio total costuma ser permitido entre duas e quatro semanas, dependendo da técnica utilizada e da evolução individual do paciente. Na fase intermediária da reabilitação, o foco é o fortalecimento progressivo e o treino de equilíbrio e propriocepção. A simetria entre os membros é um dos principais indicadores de avanço: o joelho operado deve alcançar pelo menos 90% da força do lado oposto antes do retorno ao esporte. O retorno às atividades esportivas geralmente acontece entre 6 e 9 meses, mas pode variar conforme o tipo de enxerto, a adesão ao tratamento e a resposta individual. Programas de reabilitação supervisionados e avaliações funcionais detalhadas ajudam na redução do risco de relesão, que pode chegar a 15% em pacientes jovens que voltam ao esporte antes do tempo ideal. O uso de inteligência artificial e sensores de movimento também começa a ganhar espaço na reabilitação, permitindo o monitoramento do progresso do paciente em tempo real e o ajuste dos protocolos de forma individualizada. Se você teve uma lesão ligamentar no joelho ou sente instabilidade ao se movimentar, agende uma consulta e inicie o seu tratamento o quanto antes.