Joelho varo e corrida: como adaptar os treinos para evitar a sobrecarga?

Popularmente conhecido como pernas arqueadas, o joelho varo é uma condição em que os joelhos ficam afastados mesmo quando os pés estão juntos. Esse desalinhamento, que altera o eixo de sustentação do corpo, pode afetar diretamente a mecânica da corrida e, se não for corretamente tratado, provocar sobrecarga nas articulações, especialmente nos joelhos e tornozelos.

Embora muitas pessoas com joelho varo corram sem maiores problemas, é necessário que os corredores entendam os impactos desse desalinhamento para prevenir lesões e manter a performance com segurança. Com uma avaliação biomecânica precisa e ajustes bem planejados nos treinos, é possível adaptar a prática da corrida à estrutura do corredor, reduzindo significativamente o risco de sobrecarga articular.


O que é joelho varo e como ele interfere na corrida

O joelho varo é um desalinhamento caracterizado pela abertura dos joelhos para fora, gerando um aspecto de pernas arqueadas. Essa alteração pode ser congênita, decorrente de doenças como o raquitismo, ou se desenvolver ao longo da vida por sobrecarga articular, hábitos posturais inadequados ou alterações estruturais. No caso dos adultos, o joelho varo também pode ser consequência do desgaste cartilaginoso, principalmente em casos de artrose medial no joelho.

Durante a prática de corrida, o corpo exige uma biomecânica precisa para distribuir adequadamente as forças de impacto. O joelho varo modifica essa distribuição, gerando maior pressão na parte interna do joelho (compartimento medial) e alterando consideravelmente a absorção de impacto. Isso pode sobrecarregar estruturas como meniscos, ligamentos e cartilagem, além de afetar a articulação do quadril e tornozelo, que precisam compensar o desalinhamento.

O joelho varo também pode causar desequilíbrios musculares. Músculos como adutores, quadríceps e isquiotibiais podem trabalhar de forma desigual, aumentando o risco de fadiga, dor e lesões por uso excessivo. Com o passar do tempo, o padrão de corrida se torna ineficiente e exige mais energia para manter o mesmo rendimento.

É importante lembrar que muitos corredores com esse tipo de eixo também apresentam boa adaptação biomecânica. A diferença está na presença de sintomas como dor, limitação funcional ou histórico de lesões.


Avaliação individual: o primeiro passo antes do ajuste dos treinos

Antes de qualquer adaptação ou ajuste no treino de corrida, é necessário realizar uma avaliação biomecânica completa. Esse exame é conduzido por fisioterapeutas ou profissionais de medicina esportiva e analisa o padrão de marcha, mecânica de corrida, força muscular, alinhamento dos membros inferiores e amplitude de movimento. Com base nessas informações, é possível identificar os fatores que aumentam o risco de sobrecarga.

Também é necessário avaliar a rigidez ou frouxidão ligamentar, fatores que influenciam diretamente a estabilidade articular. Pacientes com joelho varo e laxidade ligamentar têm maior risco de desenvolver instabilidade durante a realização de movimentos rápidos ou de impacto.

Durante a avaliação, o profissional também pode identificar alterações secundárias ao joelho varo, como pisada supinada, rotação externa excessiva do quadril ou encurtamento muscular. Quando esses fatores não são corrigidos, podem perpetuar o padrão inadequado de movimento e aumentar o risco de lesões como fasceíte plantar, condropatia patelar e tendinites.

Somente com os dados da avaliação em mãos é possível personalizar o treino de corrida, respeitando os limites individuais de cada corpo. Essa abordagem é especialmente importante para corredores amadores, que não contam com acompanhamento constante e podem não perceber os primeiros sinais de sobrecarga.


Como adaptar os treinos de corrida em quem tem joelho varo

A principal estratégia para corredores com joelho varo é adaptar os treinos para minimizar a sobrecarga no compartimento medial do joelho, favorecendo um padrão de corrida mais equilibrado. Isso pode ser feito por meio de ajustes na intensidade, volume, frequência e tipo de solo, acompanhados de fortalecimento muscular e uso de calçados adequados.

O fortalecimento dos músculos estabilizadores do quadril — como glúteo máximo, glúteo médio e rotadores externos — é indispensável. Esses músculos ajudam a alinhar o fêmur durante a passada e reduzem a tendência do joelho a se projetar lateralmente. Além disso, o core deve ser trabalhado para garantir estabilidade pélvica e controle postural durante a corrida.

A progressão de volume e intensidade deve ser feita sempre com cautela. Evitar treinos consecutivos, intercalar corrida com caminhada e priorizar superfícies menos rígidas são medidas que ajudam a reduzir a sobrecarga articular.

Também é importante realizar alongamentos regulares dos músculos que tendem a estar encurtados nesse tipo de eixo, como adutores e gastrocnêmios.


Quando o joelho varo se torna um fator limitante?

Apesar das adaptações possíveis, há casos em que o joelho varo pode se tornar um fator limitante para a prática da corrida. Isso acontece principalmente quando o desalinhamento é severo, causa dor persistente ou está associado a lesões estruturais — como artrose, lesões meniscais ou degeneração cartilaginosa. Nesses casos, o impacto repetitivo da corrida pode acelerar o desgaste articular.

Outro sinal de alerta é a presença de instabilidade durante a corrida ou episódios frequentes de travamento, falseio ou inchaço no joelho após os treinos. Esses sintomas indicam que a articulação está sofrendo uma sobrecarga acima do tolerável e precisa de investigação médica. Persistir no treino sem os devidos ajustes pode agravar o quadro e levar à necessidade de tratamento cirúrgico.

Corredores com histórico de lesões recorrentes também devem ter atenção redobrada. A repetição de tendinites, fraturas por estresse ou dor crônica nos membros inferiores pode estar diretamente relacionada ao desalinhamento biomecânico não tratado. Nesses casos, o acompanhamento com um ortopedista é fundamental para definir a continuidade ou substituição da atividade.

Isso não quer dizer que o corredor com joelho varo precise abandonar o esporte. Muitas vezes, a solução está na redução do volume dos treinos, na variação dos estímulos, no investimento em reabilitação e em uma periodização mais conservadora.

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A importância do acompanhamento profissional

Por mais que existam orientações gerais sobre joelho varo e corrida, cada corpo responde de forma única. Por isso, o acompanhamento com profissionais especializados é o caminho mais seguro para adaptar os treinos e garantir longevidade esportiva. Médicos do esporte, fisioterapeutas e treinadores com experiência podem ajudar a identificar padrões prejudiciais e construir estratégias eficientes.

Nesse processo, o fisioterapeuta é peça fundamental. Atuando tanto na prevenção quanto no tratamento de lesões, ele contribui para melhorar o padrão de corrida e reduzir o impacto negativo do desalinhamento.

Dica essencial: além do fortalecimento, ajustes na mecânica da corrida e reeducação do movimento são cruciais para evitar sobrecarga no joelho varo.

Correr com joelho varo é possível, mas exige cuidados especiais. O desalinhamento dos joelhos altera a biomecânica da corrida e, quando não considerado nos treinos, pode levar à sobrecarga articular e ao desenvolvimento de lesões.

Se você tem joelho varo e corre, agende sua avaliação. Descubra como adaptar seus treinos de forma segura e conquistar seus objetivos com mais saúde e equilíbrio.