Células-tronco no tratamento de artrose do joelho: mitos e realidades

O uso de células-tronco na ortopedia, principalmente no tratamento de artrose do joelho, tem ganhando destaque entre médicos e pacientes. A promessa de regenerar tecidos e retardar a evolução da doença parece abrir um novo capítulo na medicina regenerativa. Entretanto, junto com esse entusiasmo também surgem exageros e desinformações que distorcem o real potencial dessas terapias adjuvantes.

A artrose é uma das doenças articulares mais comuns do mundo, afetando milhares de pessoas e comprometendo a qualidade de vida de forma gradual. Diante da limitação dos tratamentos convencionais, que têm foco no alívio dos sintomas, as terapias com células-tronco surgem como uma alternativa inovadora, buscando atuar na causa da degeneração articular.

O que são e como atuam as células-tronco

As células-tronco são células indiferenciadas, ou seja, têm a capacidade de se transformar em diferentes tipos de células conforme o estímulo que elas recebem. No caso da ortopedia, o interesse está nas chamadas células-tronco mesenquimais, que são encontradas em tecidos como a medula óssea e o tecido adiposo. Essas células podem se diferenciar em cartilagem, osso, músculo e tendão, além de exercer efeito anti-inflamatório e imunomodulador.

Quando aplicadas na articulação do joelho, essas células não se transformam necessariamente em novas células de cartilagem, como muitas vezes se acredita de forma equivocada. Elas agem principalmente na liberação de substâncias bioativas que reduzem a inflamação e estimulam o reparo dos tecidos. Em outras palavras, elas reprogramam o ambiente articular, criando condições mais favoráveis para que o corpo consiga se recuperar.

O procedimento, em geral, envolve a coleta de células através de um processo de aspiração na medula óssea ou de gordura abdominal. Após o processamento, essas células são concentradas e injetadas na articulação com orientação por imagem. Todo o processo deve ser conduzido por um profissional especializado, seguindo as normas de biossegurança que são estabelecidas pela Anvisa.

O conceito de medicina regenerativa representa uma total mudança de paradigma, focado em restaurar a função biológica dos tecidos, e não apenas tratar os sintomas.

Indicações e perfil ideal do paciente

O uso de células-tronco na artrose de joelho é mais indicado para casos leves a moderados, quando ainda existe uma quantidade razoável de cartilagem e o ambiente articular é capaz de responder ao estímulo. Nessas fases, o tratamento pode ajudar na redução da dor, da inflamação e da rigidez, além de retardar o avanço da doença.

Pacientes que não conseguiram uma melhora satisfatória com tratamentos convencionais, como as infiltrações de ácido hialurônico ou plasma rico em plaquetas, também podem se beneficiar da terapia celular. O peso corporal, a idade e o nível de atividade física são fatores determinantes na resposta clínica, já que quanto melhor o condicionamento e o controle metabólico, maior a chance de bons resultados.

Por outro lado, nos casos avançados de artrose, quando há perda completa da cartilagem e deformidade óssea, as células-tronco apresentam um efeito limitado. Nessas situações, o tratamento cirúrgico continua sendo a opção mais indicada.

É importante destacar que o uso de células-tronco não é um tratamento padronizado. Diferentes centros utilizam protocolos variados em relação à origem, processamento e concentração das células. A falta de uniformidade é um dos grandes desafios para consolidar o uso clínico dessa terapia com base em evidências sólidas.

O que dizem as evidências científicas

Nos últimos anos, a quantidade de estudos sobre células-tronco na artrose do joelho aumentou significativamente. Ensaios clínicos e revisões sistemáticas apontam benefícios em termos de melhora funcional, alívio da dor e redução dos marcadores inflamatórios. Entretanto, os resultados ainda são heterogêneos e dependem da técnica utilizada, do estágio da doença e do perfil do paciente.

O tempo de resposta é outro ponto importante. Os benefícios costumam ser percebidos entre três e seis meses após a aplicação, podendo durar de um a dois anos, dependendo do protocolo e dos cuidados associados, como a fisioterapia e o controle de peso.

Principais mitos e verdades sobre o tratamento

O avanço da medicina regenerativa trouxe entusiasmo, mas também gerou uma série de equívocos que precisam ser esclarecidos. Muitos pacientes chegam ao consultório do ortopedista acreditando que o tratamento com células-tronco reconstrói toda a cartilagem ou elimina a necessidade de cirurgia, o que, na prática, não é bem verdade.

As células-tronco não criam uma nova articulação. Elas atuam no controle do processo inflamatório e podem melhorar o ambiente biológico da cartilagem, mas a regeneração estrutural completa ainda é limitada pela própria complexidade do tecido condral. Também não existem garantias de uma resposta universal: alguns pacientes apresentam melhora significativa, enquanto outros têm ganhos mais modestos.

Outro mito frequente é que o tratamento é proibido ou experimental demais. Na realidade, o uso de concentrados autólogos de células mesenquimais, ou seja, obtidas do próprio paciente, é autorizado no Brasil, desde que siga as normas da Anvisa e não envolva manipulação genética ou expansão celular em laboratório, o que é restrito à pesquisa.

Também é necessário compreender que o tratamento com células-tronco não dispensa cuidados paralelos, como reabilitação física, fortalecimento muscular e mudanças no estilo de vida. Embora tenha efeito potencializador, essa terapia depende de um contexto clínico favorável para entregar bons resultados.

Leia também: Quais os primeiros sinais de artrose no joelho e como diagnosticá-los precocemente?

O futuro da terapia celular no tratamento da artrose

O campo da terapia celular está em rápida evolução e avanço. Novas abordagens, como os exossomos, têm mostrado potencial regenerativo promissor, pois concentram os fatores bioativos responsáveis pela modulação tecidual, sem a necessidade de manipular as células em si.

A tendência é que o futuro da ortopedia caminhe para tratamentos cada vez mais personalizados e combinados, associando células-tronco, PRP e fisioterapia específica.

Quer saber se o tratamento com células-tronco pode ajudar no seu caso? Entre em contato conosco e agende a sua consulta.