O joelho é uma articulação altamente complexa, responsável por suportar boa parte do nosso peso corporal e por permitir movimentos fundamentais para a locomoção. Desvios no alinhamento dos membros inferiores, como o joelho valgo e o joelho varo, comprometem esse equilíbrio funcional. Essas alterações — conhecidas popularmente como “joelho em X” e “pernas arqueadas”, respectivamente — geram dúvidas frequentes quanto à necessidade de cirurgia.
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A boa notícia é que, na maior parte dos casos, é possível conviver com essas condições com segurança, funcionalidade e sem necessidade de intervenção cirúrgica. Isso depende de diversos fatores, como presença de dor, grau do desvio, impacto na mobilidade e estilo de vida do paciente.
O que são o joelho valgo e o joelho varo?
O joelho valgo é caracterizado pela aproximação dos joelhos com afastamento dos tornozelos, formando o conhecido “joelho em X”. Essa condição altera o eixo mecânico do membro inferior e desloca a carga corporal para a parte lateral do joelho. Já o joelho varo, por sua vez, apresenta uma configuração oposta: os joelhos permanecem afastados mesmo quando os pés estão juntos, dando o aspecto de pernas arqueadas, com sobrecarga na parte medial da articulação.
Ambas as condições podem ser congênitas, hereditárias ou adquiridas — especialmente quando relacionadas a fatores como obesidade, traumas, desequilíbrios musculares ou doenças ósseas. Em crianças, essas alterações são comuns como parte do desenvolvimento natural, com tendência à correção espontânea até os 7 anos de idade.
Quando o desalinhamento persiste na idade adulta, pode gerar sobrecarga crônica na articulação, predispor ao desgaste, causar dor e limitar a funcionalidade. Por isso, é essencial avaliar a progressão do quadro, o impacto na marcha e o possível envolvimento de outras estruturas, como quadris e coluna.
Leia também: Joelho valgo: fortalecimento pode resolver?
Quando a cirurgia não é necessária?
Nem todo caso de joelho valgo ou varo exige cirurgia. A maioria das pessoas com desvios leves ou moderados consegue manter uma vida funcional e ativa com acompanhamento clínico e tratamento conservador. Entre os principais critérios que indicam a viabilidade de um tratamento não cirúrgico, estão:
- Desvio angular leve a moderado
- Ausência de dor intensa ou inflamação frequente
- Boa resposta ao fortalecimento muscular e à reeducação postural
- Ausência de lesões associadas, como rompimento de ligamentos ou artrose avançada
- Adaptação funcional do paciente às suas atividades de vida diária
Nesses casos, a correção total do desalinhamento não é o objetivo principal. O foco passa a ser a compensação adequada das estruturas envolvidas, com controle motor, estabilidade articular e preservação funcional.
É importante lembrar que a presença do desalinhamento, por si só, não é indicativo de cirurgia. O que define a necessidade de intervenção é o grau de comprometimento funcional e a ausência de resposta aos tratamentos conservadores.
Estratégias conservadoras para manejo do joelho valgo e varo
O tratamento não cirúrgico dos desvios do joelho baseia-se em três pilares: reeducação funcional, fortalecimento muscular e controle da sobrecarga. Cada caso exige uma abordagem personalizada, considerando as particularidades anatômicas e funcionais do paciente.
No caso do joelho valgo, o fortalecimento do quadríceps, glúteos e rotadores externos do quadril é essencial para evitar o colapso medial da articulação. Já no joelho varo, o foco se volta para os abdutores do quadril, isquiotibiais e estabilizadores mediais do joelho.
A fisioterapia é uma aliada valiosa nesse processo, oferecendo recursos como:
- Treinamento proprioceptivo
- Reeducação da marcha
- Liberação miofascial
- Correção de padrões compensatórios
- Alongamentos direcionados
O uso de palmilhas ortopédicas, calçados adequados e o controle do peso corporal também podem ser recomendados, pois ajudam na redistribuição da carga e na redução da progressão do desalinhamento.
Quando a cirurgia pode ser indicada?
Apesar dos bons resultados com o tratamento conservador, há casos em que a cirurgia se torna necessária. A principal indicação é a presença de dor persistente, associada à deformidade progressiva e à falência das estratégias clínicas.
A cirurgia mais comum é a osteotomia — um procedimento que permite o realinhamento do eixo do joelho por meio do corte e reposicionamento ósseo. A indicação depende de fatores como:
- Grau do desvio
- Artrose localizada
- Idade do paciente
- Estilo de vida
- Demanda funcional
Nos casos de artrose avançada e desalinhamento severo, pode ser indicada a colocação de uma prótese total de joelho. Contudo, essas situações representam uma minoria dos casos e, geralmente, são consequência de anos de sobrecarga sem tratamento adequado.
Qual é a importância do diagnóstico precoce?
Identificar precocemente o desalinhamento do joelho permite implementar uma intervenção mais eficaz e evita a progressão para quadros mais graves. Por isso, diante de qualquer sinal de alteração postural, dor frequente ou instabilidade ao caminhar, é essencial procurar ajuda de um ortopedista.
A avaliação clínica é complementada por exames de imagem, como radiografias com carga, que ajudam a medir o ângulo de desvio e identificar sinais de desgaste articular. Em alguns casos, também pode ser necessário realizar exames funcionais, como avaliação da marcha ou baropodometria.
Com base nesse diagnóstico, é possível traçar um plano terapêutico individualizado, com foco na reabilitação funcional e no controle da sobrecarga. Quanto antes essas medidas forem implementadas, maiores as chances de evitar complicações e preservar a funcionalidade do joelho.
O tratamento conservador bem conduzido é eficaz para a maioria dos casos de joelho valgo e varo. Fortalecimento muscular, correção postural, controle da sobrecarga e acompanhamento profissional são aliados valiosos para preservar a função articular. Se você notou alterações no alinhamento dos joelhos ou sente dor ao caminhar, agende sua consulta e conte com uma avaliação especializada.
